quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ah! mar...



No mar do teu corpo
Sou náufraga
Sou bússola
Sou lúcida

Invoco tempestades
provoco vontades
no mar do teu corpo

No mar do teu corpo
afundo... profunda...
ancoro saudades

Sedenta, mergulho
verdes águas descubro
no mar do teu corpo

No mar do teu corpo
sou vento: sem juízo...
Navegar é preciso;
Amar-te não.


( Cristina Van Opstal, julho de 2009 )

domingo, 19 de julho de 2009

Desilusão

Amor basta ?
Amor resta?
Amor presta ?


( Cristina Van Opstal, 2008 )

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vieste com o mar...
tuas ondas naufragaram meus receios
inundaram-me de anseios...

quando vi, já era tua
sob a lasciva luz da lua...

( Cristina Van Opstal, julho de 2009 )

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Era uma vez...

Nunca fiz o tipo “princesinha-adormecida-aguarda-salvador-que-a-resgatará-da-terrível-bruxa-má”...
Nunca fui tão Branca que arrumasse a casa de alguém apenas em interesse próprio...
Nunca fiei, teci, bordei, mas cheguei aos quinze anos com muitos livros de cabeceira...
Nunca soube fazer trança ( nem prancha! )
e nunca precisei de uma abóbora mágica para poder dançar...

Sou uma princesa de vanguarda,
que adora maçãs e acorda despenteada,
Não quero o maior castelo do mundo
Quero meu mundo maior que um castelo
Sei alguns feitiços, tenho meus caprichos,
bailo valsa, mas prefiro samba

Sou uma princesa original,
estou longe de ser de cristal...
Já pulei em pontes, dei com a cara no muro
procuro aprender mais, não finjo saber menos
Encaro um espelho, enfrento meu lado escuro
a dor não me satisfaz, passo longe dos venenos

Mas sou uma princesa !...
Os sonhos de “era uma vez” também me habitam...
Acredito em finais felizes
( embora saiba que eles resultem de muito esforço e vontade )
Ah, e eu mereço um príncipe de verdade !

Mas...
quero meu príncipe diferente,
menos encantado,
mais gente
menos perfeito,
mais empenhado,
perfumado sempre:
aroma de banho tomado...

Quero colo, quero beijo,
quero arrepio, quero amasso,
quero afago, quero sossego,
quero ternura e aconchego

...........................


Talvez, por isso, meu príncipe ainda não tenha chegado
Ou, quem sabe, deve estar com o endereço errado


...........................

Enquanto isso ?
Não fico esperando sentada
aguardando meu destino
Ponho o pé na estrada
espalho flores pelo caminho
guardo alguns poemas
prá quando meu coração se sentir sozinho...
E que Bela Adormecida que nada !
Quando eu o encontrar
quero estar bem acordada !

( Cristina Van Opstal – julho de 2009 )

terça-feira, 14 de julho de 2009

Tua...



Tua noite
Tua casa
Tua porta
Nada importa...

Minha boca
Tua boca
Me atordoa
Sob a roupa

Teus olhos
Teus braços
Teu colo
Meu corpo

Tua cama
Tuas mãos
Minha pele
Tudo chama

Tua voz
Teu sorriso
Teu sabor
Nenhum juízo

Teus dedos
meus segredos
meu sussurro
teu norte

Meu colo
Teu corpo
Tudo arde
Já é tarde
.................................

Teus ombros
Meu recanto...
Abandono de amor
por todo o canto.
( Cristina Van Opstal, julho de 2009; Water serpents II - Klimt, detalhe, 1904-07 )

domingo, 12 de julho de 2009

A quem trai o traidor ?


Insidiosa serpente
sorrateira pelos vãos cotidianos
teu sorriso aparente,
engana, mente
camufla os danos...

Fere a mão que te estendem
fere a mão que te afaga
Esconde-se a fera na bela...
veneno escorre em palavras.

Do alheio a luz te incomoda
Inveja inflama, queima
Destila teu cinismo sem fim
Sobre o milenar irmão de Caim

Teu olhar de cobiça alimenta o fel
Oculta-se o mal do outro lado do véu

Voz suave sussurra
mascarando o perigo.
A presa, ingênua, confia
na promessa de abrigo.
Não espera a dor atroz,
não reconhece seu algoz,
e segue de mãos dadas contigo...

Mas também como se contesta
quem
se
esgueira
ardiloso
pelas
frestas ?

Os versos de Iago
espelham o reverso do amor
corrompem a fé,
sufocam a alma
imunes espalham
impunes a dor...

Um dia, no entanto...
a verdade se impõe...
Revela-se o traidor
o monstro por detrás do rosto
razão de tanto dissabor

Coração cheio de espanto
cheio de dúvidas e de pranto
desamparado se pergunta
“Como não vi tua face impura ?”

Traíste...
Feriste...
Mas o que tanto querias
não conseguiste !

Tua ingrata traição deixa cicatrizes,
mas, definitivamente, não cria raízes.

No outro, o brilho permanece
A amargura não lhe tem morada
Tanta dor enfim se desvanece
Ao futuro brinda na alvorada...

( Cristina Van Opstal, junho de 2009 )

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sustenido

Tenha dó...

Foste lá
ver outro sol

teu grave fá
já não me guia

sofro cá
triste em mi

condena-me ré
longe de si

( Cristina Van Opstal - julho de 2009 )

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fui



Fui esteio,
Fui abrigo,
Fui caminho.

Fui morada,
Namorada
Luz na estrada.

Fui fonte
Fui reino
Fui ponte

Fui luz
Fui verdade
Fui vontade

Fui riso
Fui música
Fui domingo

Fui sã
Fui siso
Fui semana

Fui vento
devaneio
Fui descanso

Fui única
Fui múltipla
Fui diversa

Fui coragem
Fui viagem
Fui possibilidade

Fui barco
Fui ilha
Fui promessa de filha

Fui dúvida
Fui escolha
Fui certeza

Fui espera
Fui janela
Fui presente

Fui sede
Fui corpo
Fui lábios em fogo

Fui olhos
Fui laço
Fui o abraço

Fui possível
Flexível
Fui silêncio

Fui chão
Fui cerca
Fui jardim

Fui a errada
Fui a incerta
Fui o perdão

Fui voz
Fui espelho
Fui conselho

Fui asa
Fui casa
Fui saudade

Fui palavra
Fui pergunta
Fui poema

Fui semente
Fui lavoura
Fui colheita

Fui profunda
Fui inteira
Infinita

Não vieste?
Fui embora.

( Cristina Van Opstal - julho de 2009 )