segunda-feira, 25 de maio de 2009

Este é dos tempos da faculdade de Letras... Inspirada pela poesia concreta, eu o escrevi... Logo abaixo da imagem original ( por isso que está meio desbotada ! ), transcrevo os versos em sua disposição “regular”...


Ainda eras semente de um amor ausente,
Mas teus olhos, já via,
prá tua boca, eu sorria
Queria-te muito...

Veio no vento o meu amor
Reconheci-o quando chegou.

– Já era tempo !
o coração alerta

– Não temos tempo !
o corpo apressa

As mãos... suas... juntas,
nua: entrega.
Semente do amor presente.

Enchente das águas,
incham as margens...
O rio que leva
alimento e afeto
te traz tão perto...

Eu canto em prece, te acalanto...
Meu ventre cresce te esperando.

Virás, sem dor, no tempo certo...
Te chamarei de meu amor!

( Cristina Van Opstal, 1998 )

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Como já cantava o “poetinha”, para quem um samba tem que “ter um bocado de tristeza [...], senão, não se faz um samba não”, muitos dos melhores versos têm suas raízes na melancolia, na dor, na tristeza - ficcional ou não... Ainda que haja lindos poemas que rimam felizes histórias de amor, é bem verdade que a sina de um amor não correspondido sempre produziu inesquecíveis estrofes...
E, assim, aqui também vai meu “bocadinho” de tristeza...


( Melancolia, Edward Munch, 1891 )
Fim

Busco respostas que minhas dúvidas aplaquem
Fujo das memórias que minha dor aumentem
Procuro rimas que minha tristeza abrandem
Encontro histórias que meu coração aquecem

Desfaço planos que me consolam
Esqueço promessas que me invadem
Apago marcas que em meu corpo fervem
Disperso aromas que me sufocam

Afasto olhares que me perseguem
Esvazio-me de sabores que me consomem
Arranco palavras que me enlouquecem
Encaixo peças que me completam

Tudo isso... e nada ! Nada de me entender...
Tudo isso... e nada de não mais te querer...
( Cristina Van Opstal, 2007 )

terça-feira, 19 de maio de 2009

"Post" único

Preocupa-me mais a arrogância do que a ignorância:

a ignorância não sabe que precisa saber mais,
a arrogância pensa que não precisa saber mais...

Mas procuro sempre manter-me bem afastada de ambas !


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vinte mil léguas "sexymarinas"

Fonte: http://www.cybtex.de/images/gallery/big/deep-sea-coral.jpg

É impossível não mergulhar no teu mar
e perder-me na tua imensidão...
É vital querer por ti navegar,
E pro teu corpo nunca dizer não !

A vinte mil léguas
meu desejo te espera
meu amor te saboreia
sem descanso, nem tréguas
prá ser tua sereia...

Meu Nemo, capitão
sempre a me buscar
prá imergir na tua paixão
e de minhas amarras me soltar
Meu valente marinheiro,
meu lobo, meu cordeiro.

No azul profundo
o encontro das águas;
no azul fecundo,
o encontro das almas...

Ver-me ao ver-te:
no fundo dos olhos teus
o verde dos meus...

Destemido, avanças
Tua Nautilus me procura
e eu, à espera, toda nua...
Invadir-me,
Cousteau do meu mar
sereia a explorar,
na Atlântida perdida
viagem só de ida,
ancora teu ser,
naufraga o silêncio
e mergulho tão fundo
de tanto prazer...

( Cristina Van Opstal, 2005 )

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Embora este assunto seja bastante sério, pelo menos para mim, isso não quer dizer que não possa ser tratado com leveza e um toque de humor... aliás, como já o constatara Oswald de Andrade, em seu famoso poema de título amor e verso único humor.

Eis a minha brincadeira (séria!) com o amor...



Habite-se

Chega de amor espelunca... Usa, usa, mas cuidar que é bom ?! Nunca !
Amor flat: tudo, tudo se repete.
Amor condomínio: custa caro e não é exclusivo.
Amor mansão: grades, alarmes... proteção ou prisão ?
Amor trailer: vai com você pra onde precisar...
Amor lar: ah... esse sim é pra casar!...


( Cristina Van Opstal, 2005 )

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Muitos já disseram que a mulher contemporânea exerce variados papéis, exaure-se em diferentes relações, confunde-se entre tantos apelos...
Prefiro crer, contudo, que é por meio desse caleidoscópio de “eus” e de “outros” que nós nos encontramos... Entre tantas escolhas – as cotidianas, as ancestrais, as conscientes – é que somos capazes de criar a nossa...

IDENTIDADE

Eu sou Cristina...
Nem Amélia, nem Ofélia, nem Camélia !
Misto de Capitu e Kareninna,
tenho em mim a Flor do Amado,
creio sempre, tal qual Penélope,
fujo das ilusões bovaryanas,
inspira-me a sabedoria de Morgana.

Eu sou Cristina...
Nem Amélia, nem Ofélia, nem Camélia !
Misto de Bela e Emília,
ofereço o fio de Ariadne
procuro os laços de Catarina,
de Lady Macbeth afasto-me,
evoco os versos de Sherazade...
............................................................
( Cristina Van Opstal, 2009 )

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conversa em inglês ; )


Mais um texto sobrEscrito... Eu o escrevi baseado no poema do escritor norte-americano Henry Wadsworth Longfellow, de 1881:

The tide rises, the tide falls

The tide rises...
and he comes together,
But anyone he finds.
Along the sand, through the light,
he looks for his soulmate...
In vain. She didn’t come.
Whitin the curlew’s crying,
he calls: “I wish you were here”.

Shadows steal the day, blacking the sky.
Waves, on the sea, whispering : WHY ?
Tired dashed hopes fill him completely.
Full of pain, his heart realizes...
There is no return.
It’s time to leave !
The tide falls...
..................................................
( Cristina Van Opstal, 1998 )

domingo, 10 de maio de 2009

Conversando com Camões

Escrevi o texto abaixo há algum tempo, estabelecendo uma relação intertextual com um soneto de Luís Vaz de Camões, datado de 1595:

Eu cantaria de amor tão docemente,
Se a ti soubesse que encantaria,
Indiferente, porém, tu permaneces,
Nem sequer ouves esta melodia...
Rejeitas meu canto: tristemente me calo.
Resta-me apenas o silêncio, que anuncia meu pranto.

(........................................ )

Eu desistiria deste amor certamente
Se acreditasse que sem ele não morreria...
A te amar, portanto, eu permaneço.
Enxugo meu pranto, me fortaleço,
Rompo o silêncio, torno a cantar,
Desta vez, tu irás me escutar.

E eu cantarei de amor tão docemente...

................................................
( Cristina Van Opstal, 1997 )

Para ler o poema original, acesse http://pt.wikisource.org/wiki/Eu_cantarei_o_amor_tão_docemente

"Prá" começo de conversa...

"Ora, menino, um ser humano não é uma moeda apenas, com verso e reverso. É um poliedro, com milhares de faces. E há milhares de maneiras de ver uma pessoa, um ato, um fato."
( Incidente em Antares, Érico Veríssimo )

... e há milhares de maneiras de iniciar uma conversa... eu escolhi começar citando esse grande autor, para ter um mote, um impulso, uma coragem... para “pegar o jeito”, sabe ? Até porque busco partilhar aqui impressões e reflexões sobre as “milhares de faces” cotidianas...
Desejo ainda compartilhar minha paixão pela leitura, pelos milhares de mundos que se “des-cobrem” por meio dos escritos dos outros... Os livros que leio ampliam meu olhar, permitem-me sonhar... mais ainda, libertam-me !
A leitura anula divisas, estabelece pontes entre culturas, épocas e realidades distintas. Quebra tabus, mitos e (pré)conceitos. Vou à Rússia de Karenina, sofro no seco sertão com Fabiano; desvendo o crime das figurinhas, em SP; manejo espadas ao lado de D’Artagnan; reflito sobre a minha vida nas vidas de Ana-Macabéa-Laura-Joana; conheço as pipas e os sonhos afegãos; defendo do ciúme Capitu e Desdêmona; provo “do lirismo dos loucos” e “dos clowns”; compadeço-me de Arandir e seu “beijo no asfalto”...

Ler é exatamente isso para mim: libertador ! Acorda meus sonhos, provoca minha coragem...
Coragem de também escrever... escrever sobrEscritos meus, de outros... milhares...