quinta-feira, 3 de setembro de 2009

In dubio


Antes de partir
é preciso dizer...
Não posso crer que só eu sinta
que a gente se faz tão bem...
Sinto isso quando a gente conversa horas ao telefone ou no sofá de sua casa...
Sinto isso quando você me conta seu dia e fica à vontade
prá falar de suas alegrias e seus receios...
Sinto isso quando a gente se abraça demoradamente...
Sinto isso quando vejo que te “beijo a boca de um jeito que te faça rir”...
Sinto isso quando sinto seu corpo me querendo...
Sinto isso quando sinto meu corpo se rendendo...
Sinto isso quando sinto que só melhora cada vez que estamos juntos...
Não posso crer que só eu sinta
que a gente se amar seria inevitável...
( Cristina Van Opstal )

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Aprendendo a jogar ?



O problema do jogo no amor
é pôr o amor em jogo...

arriscar o amor
blefar com o amor
mascarar o amor
dificultar o amor
descartar o amor...

o amor – pra valer – pede a cara limpa
a alma aberta, o coração desperto

truques são para os mágicos, os fracos, os desiludidos...

( Cristina Van Opstal, agosto 2009 )

domingo, 9 de agosto de 2009

Definitivamente

Se a verdade se cala
Se o silêncio conversa com o vazio
Se a lucidez é uma intrusa na sala
Se à carícia impõe-se um dever
Se a dor invade o prazer
Se o corpo não mais queima
Se o corpo queima, mas não aquece
Se o colo não se faz recanto
Se ficar sozinho não é mais uma escolha
prá “de vez em quando”
Se a crise não é uma efêmera chance
de reinventar o amor
Se não se consegue mais rir dos enganos
Se há mais lembranças do que planos
Se promessas se acumulam
e a primavera não se anuncia
Se não há mais no que acreditar
Se não há mais o que esperar

É hora de dizer adeus...

( Cristina Van Opstal, agosto de 2009 )

Ainda...

Sei que vai passar...
Em mim, a tristeza não demora!
Todavia, por ora,
lembro-te,
falta-me,
sinto-te,
lamento-nos...
( Cristina Van Opstal, agosto 2009 )

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Ah! mar...



No mar do teu corpo
Sou náufraga
Sou bússola
Sou lúcida

Invoco tempestades
provoco vontades
no mar do teu corpo

No mar do teu corpo
afundo... profunda...
ancoro saudades

Sedenta, mergulho
verdes águas descubro
no mar do teu corpo

No mar do teu corpo
sou vento: sem juízo...
Navegar é preciso;
Amar-te não.


( Cristina Van Opstal, julho de 2009 )

domingo, 19 de julho de 2009

Desilusão

Amor basta ?
Amor resta?
Amor presta ?


( Cristina Van Opstal, 2008 )

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vieste com o mar...
tuas ondas naufragaram meus receios
inundaram-me de anseios...

quando vi, já era tua
sob a lasciva luz da lua...

( Cristina Van Opstal, julho de 2009 )

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Era uma vez...

Nunca fiz o tipo “princesinha-adormecida-aguarda-salvador-que-a-resgatará-da-terrível-bruxa-má”...
Nunca fui tão Branca que arrumasse a casa de alguém apenas em interesse próprio...
Nunca fiei, teci, bordei, mas cheguei aos quinze anos com muitos livros de cabeceira...
Nunca soube fazer trança ( nem prancha! )
e nunca precisei de uma abóbora mágica para poder dançar...

Sou uma princesa de vanguarda,
que adora maçãs e acorda despenteada,
Não quero o maior castelo do mundo
Quero meu mundo maior que um castelo
Sei alguns feitiços, tenho meus caprichos,
bailo valsa, mas prefiro samba

Sou uma princesa original,
estou longe de ser de cristal...
Já pulei em pontes, dei com a cara no muro
procuro aprender mais, não finjo saber menos
Encaro um espelho, enfrento meu lado escuro
a dor não me satisfaz, passo longe dos venenos

Mas sou uma princesa !...
Os sonhos de “era uma vez” também me habitam...
Acredito em finais felizes
( embora saiba que eles resultem de muito esforço e vontade )
Ah, e eu mereço um príncipe de verdade !

Mas...
quero meu príncipe diferente,
menos encantado,
mais gente
menos perfeito,
mais empenhado,
perfumado sempre:
aroma de banho tomado...

Quero colo, quero beijo,
quero arrepio, quero amasso,
quero afago, quero sossego,
quero ternura e aconchego

...........................


Talvez, por isso, meu príncipe ainda não tenha chegado
Ou, quem sabe, deve estar com o endereço errado


...........................

Enquanto isso ?
Não fico esperando sentada
aguardando meu destino
Ponho o pé na estrada
espalho flores pelo caminho
guardo alguns poemas
prá quando meu coração se sentir sozinho...
E que Bela Adormecida que nada !
Quando eu o encontrar
quero estar bem acordada !

( Cristina Van Opstal – julho de 2009 )

terça-feira, 14 de julho de 2009

Tua...



Tua noite
Tua casa
Tua porta
Nada importa...

Minha boca
Tua boca
Me atordoa
Sob a roupa

Teus olhos
Teus braços
Teu colo
Meu corpo

Tua cama
Tuas mãos
Minha pele
Tudo chama

Tua voz
Teu sorriso
Teu sabor
Nenhum juízo

Teus dedos
meus segredos
meu sussurro
teu norte

Meu colo
Teu corpo
Tudo arde
Já é tarde
.................................

Teus ombros
Meu recanto...
Abandono de amor
por todo o canto.
( Cristina Van Opstal, julho de 2009; Water serpents II - Klimt, detalhe, 1904-07 )

domingo, 12 de julho de 2009

A quem trai o traidor ?


Insidiosa serpente
sorrateira pelos vãos cotidianos
teu sorriso aparente,
engana, mente
camufla os danos...

Fere a mão que te estendem
fere a mão que te afaga
Esconde-se a fera na bela...
veneno escorre em palavras.

Do alheio a luz te incomoda
Inveja inflama, queima
Destila teu cinismo sem fim
Sobre o milenar irmão de Caim

Teu olhar de cobiça alimenta o fel
Oculta-se o mal do outro lado do véu

Voz suave sussurra
mascarando o perigo.
A presa, ingênua, confia
na promessa de abrigo.
Não espera a dor atroz,
não reconhece seu algoz,
e segue de mãos dadas contigo...

Mas também como se contesta
quem
se
esgueira
ardiloso
pelas
frestas ?

Os versos de Iago
espelham o reverso do amor
corrompem a fé,
sufocam a alma
imunes espalham
impunes a dor...

Um dia, no entanto...
a verdade se impõe...
Revela-se o traidor
o monstro por detrás do rosto
razão de tanto dissabor

Coração cheio de espanto
cheio de dúvidas e de pranto
desamparado se pergunta
“Como não vi tua face impura ?”

Traíste...
Feriste...
Mas o que tanto querias
não conseguiste !

Tua ingrata traição deixa cicatrizes,
mas, definitivamente, não cria raízes.

No outro, o brilho permanece
A amargura não lhe tem morada
Tanta dor enfim se desvanece
Ao futuro brinda na alvorada...

( Cristina Van Opstal, junho de 2009 )

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Sustenido

Tenha dó...

Foste lá
ver outro sol

teu grave fá
já não me guia

sofro cá
triste em mi

condena-me ré
longe de si

( Cristina Van Opstal - julho de 2009 )

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Fui



Fui esteio,
Fui abrigo,
Fui caminho.

Fui morada,
Namorada
Luz na estrada.

Fui fonte
Fui reino
Fui ponte

Fui luz
Fui verdade
Fui vontade

Fui riso
Fui música
Fui domingo

Fui sã
Fui siso
Fui semana

Fui vento
devaneio
Fui descanso

Fui única
Fui múltipla
Fui diversa

Fui coragem
Fui viagem
Fui possibilidade

Fui barco
Fui ilha
Fui promessa de filha

Fui dúvida
Fui escolha
Fui certeza

Fui espera
Fui janela
Fui presente

Fui sede
Fui corpo
Fui lábios em fogo

Fui olhos
Fui laço
Fui o abraço

Fui possível
Flexível
Fui silêncio

Fui chão
Fui cerca
Fui jardim

Fui a errada
Fui a incerta
Fui o perdão

Fui voz
Fui espelho
Fui conselho

Fui asa
Fui casa
Fui saudade

Fui palavra
Fui pergunta
Fui poema

Fui semente
Fui lavoura
Fui colheita

Fui profunda
Fui inteira
Infinita

Não vieste?
Fui embora.

( Cristina Van Opstal - julho de 2009 )

domingo, 28 de junho de 2009

Por inteiro



Difícil encontrar alguém “para a vida inteira”...
Mais difícil ainda é encontrar alguém inteiro
Que se queira entregar por inteiro...

São tantas metades machucadas...
Plenas ? Só de mágoas e cicatrizes.
Aos pedaços, sem vontade,
vagueiam assustadas
sem sequer lembrarem
que, um dia, foram felizes...

Num quebra-cabeça faltando peças,
procuram suas partes,
perdem-se em lençóis baldios,
maldizem a má sorte.
Num abandono fugidio,
não encontram quem os conforte.

E assim, aos pedaços
Ao amor, dizem adeus
Não sabendo ser inteiro,
não fincam suas raízes,
nem sequer acreditam
que, um dia, seriam felizes...
( Cristina Van Opstal - junho de 2009 )

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Muito tempo sem tempo para escrever... Na verdade, é mais como dizem por aí: tempo é uma questão de prioridade, pois eu tenho até escrito muito, porém, aqueles tipos de textos que alimentam a mente, mas não necessariamente a alma...
Mas será que todos os textos, na medida em que nos fazem pensar, também não nos incendeiam a alma? Eis um bom tema para se sobrEscrever, mas isso vai ter que esperar um pouquinho mais...

Brindo-os com o brilhante Guimarães Rosa:
“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho.”

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Este é dos tempos da faculdade de Letras... Inspirada pela poesia concreta, eu o escrevi... Logo abaixo da imagem original ( por isso que está meio desbotada ! ), transcrevo os versos em sua disposição “regular”...


Ainda eras semente de um amor ausente,
Mas teus olhos, já via,
prá tua boca, eu sorria
Queria-te muito...

Veio no vento o meu amor
Reconheci-o quando chegou.

– Já era tempo !
o coração alerta

– Não temos tempo !
o corpo apressa

As mãos... suas... juntas,
nua: entrega.
Semente do amor presente.

Enchente das águas,
incham as margens...
O rio que leva
alimento e afeto
te traz tão perto...

Eu canto em prece, te acalanto...
Meu ventre cresce te esperando.

Virás, sem dor, no tempo certo...
Te chamarei de meu amor!

( Cristina Van Opstal, 1998 )

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Como já cantava o “poetinha”, para quem um samba tem que “ter um bocado de tristeza [...], senão, não se faz um samba não”, muitos dos melhores versos têm suas raízes na melancolia, na dor, na tristeza - ficcional ou não... Ainda que haja lindos poemas que rimam felizes histórias de amor, é bem verdade que a sina de um amor não correspondido sempre produziu inesquecíveis estrofes...
E, assim, aqui também vai meu “bocadinho” de tristeza...


( Melancolia, Edward Munch, 1891 )
Fim

Busco respostas que minhas dúvidas aplaquem
Fujo das memórias que minha dor aumentem
Procuro rimas que minha tristeza abrandem
Encontro histórias que meu coração aquecem

Desfaço planos que me consolam
Esqueço promessas que me invadem
Apago marcas que em meu corpo fervem
Disperso aromas que me sufocam

Afasto olhares que me perseguem
Esvazio-me de sabores que me consomem
Arranco palavras que me enlouquecem
Encaixo peças que me completam

Tudo isso... e nada ! Nada de me entender...
Tudo isso... e nada de não mais te querer...
( Cristina Van Opstal, 2007 )

terça-feira, 19 de maio de 2009

"Post" único

Preocupa-me mais a arrogância do que a ignorância:

a ignorância não sabe que precisa saber mais,
a arrogância pensa que não precisa saber mais...

Mas procuro sempre manter-me bem afastada de ambas !


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vinte mil léguas "sexymarinas"

Fonte: http://www.cybtex.de/images/gallery/big/deep-sea-coral.jpg

É impossível não mergulhar no teu mar
e perder-me na tua imensidão...
É vital querer por ti navegar,
E pro teu corpo nunca dizer não !

A vinte mil léguas
meu desejo te espera
meu amor te saboreia
sem descanso, nem tréguas
prá ser tua sereia...

Meu Nemo, capitão
sempre a me buscar
prá imergir na tua paixão
e de minhas amarras me soltar
Meu valente marinheiro,
meu lobo, meu cordeiro.

No azul profundo
o encontro das águas;
no azul fecundo,
o encontro das almas...

Ver-me ao ver-te:
no fundo dos olhos teus
o verde dos meus...

Destemido, avanças
Tua Nautilus me procura
e eu, à espera, toda nua...
Invadir-me,
Cousteau do meu mar
sereia a explorar,
na Atlântida perdida
viagem só de ida,
ancora teu ser,
naufraga o silêncio
e mergulho tão fundo
de tanto prazer...

( Cristina Van Opstal, 2005 )

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Embora este assunto seja bastante sério, pelo menos para mim, isso não quer dizer que não possa ser tratado com leveza e um toque de humor... aliás, como já o constatara Oswald de Andrade, em seu famoso poema de título amor e verso único humor.

Eis a minha brincadeira (séria!) com o amor...



Habite-se

Chega de amor espelunca... Usa, usa, mas cuidar que é bom ?! Nunca !
Amor flat: tudo, tudo se repete.
Amor condomínio: custa caro e não é exclusivo.
Amor mansão: grades, alarmes... proteção ou prisão ?
Amor trailer: vai com você pra onde precisar...
Amor lar: ah... esse sim é pra casar!...


( Cristina Van Opstal, 2005 )

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Muitos já disseram que a mulher contemporânea exerce variados papéis, exaure-se em diferentes relações, confunde-se entre tantos apelos...
Prefiro crer, contudo, que é por meio desse caleidoscópio de “eus” e de “outros” que nós nos encontramos... Entre tantas escolhas – as cotidianas, as ancestrais, as conscientes – é que somos capazes de criar a nossa...

IDENTIDADE

Eu sou Cristina...
Nem Amélia, nem Ofélia, nem Camélia !
Misto de Capitu e Kareninna,
tenho em mim a Flor do Amado,
creio sempre, tal qual Penélope,
fujo das ilusões bovaryanas,
inspira-me a sabedoria de Morgana.

Eu sou Cristina...
Nem Amélia, nem Ofélia, nem Camélia !
Misto de Bela e Emília,
ofereço o fio de Ariadne
procuro os laços de Catarina,
de Lady Macbeth afasto-me,
evoco os versos de Sherazade...
............................................................
( Cristina Van Opstal, 2009 )

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conversa em inglês ; )


Mais um texto sobrEscrito... Eu o escrevi baseado no poema do escritor norte-americano Henry Wadsworth Longfellow, de 1881:

The tide rises, the tide falls

The tide rises...
and he comes together,
But anyone he finds.
Along the sand, through the light,
he looks for his soulmate...
In vain. She didn’t come.
Whitin the curlew’s crying,
he calls: “I wish you were here”.

Shadows steal the day, blacking the sky.
Waves, on the sea, whispering : WHY ?
Tired dashed hopes fill him completely.
Full of pain, his heart realizes...
There is no return.
It’s time to leave !
The tide falls...
..................................................
( Cristina Van Opstal, 1998 )

domingo, 10 de maio de 2009

Conversando com Camões

Escrevi o texto abaixo há algum tempo, estabelecendo uma relação intertextual com um soneto de Luís Vaz de Camões, datado de 1595:

Eu cantaria de amor tão docemente,
Se a ti soubesse que encantaria,
Indiferente, porém, tu permaneces,
Nem sequer ouves esta melodia...
Rejeitas meu canto: tristemente me calo.
Resta-me apenas o silêncio, que anuncia meu pranto.

(........................................ )

Eu desistiria deste amor certamente
Se acreditasse que sem ele não morreria...
A te amar, portanto, eu permaneço.
Enxugo meu pranto, me fortaleço,
Rompo o silêncio, torno a cantar,
Desta vez, tu irás me escutar.

E eu cantarei de amor tão docemente...

................................................
( Cristina Van Opstal, 1997 )

Para ler o poema original, acesse http://pt.wikisource.org/wiki/Eu_cantarei_o_amor_tão_docemente

"Prá" começo de conversa...

"Ora, menino, um ser humano não é uma moeda apenas, com verso e reverso. É um poliedro, com milhares de faces. E há milhares de maneiras de ver uma pessoa, um ato, um fato."
( Incidente em Antares, Érico Veríssimo )

... e há milhares de maneiras de iniciar uma conversa... eu escolhi começar citando esse grande autor, para ter um mote, um impulso, uma coragem... para “pegar o jeito”, sabe ? Até porque busco partilhar aqui impressões e reflexões sobre as “milhares de faces” cotidianas...
Desejo ainda compartilhar minha paixão pela leitura, pelos milhares de mundos que se “des-cobrem” por meio dos escritos dos outros... Os livros que leio ampliam meu olhar, permitem-me sonhar... mais ainda, libertam-me !
A leitura anula divisas, estabelece pontes entre culturas, épocas e realidades distintas. Quebra tabus, mitos e (pré)conceitos. Vou à Rússia de Karenina, sofro no seco sertão com Fabiano; desvendo o crime das figurinhas, em SP; manejo espadas ao lado de D’Artagnan; reflito sobre a minha vida nas vidas de Ana-Macabéa-Laura-Joana; conheço as pipas e os sonhos afegãos; defendo do ciúme Capitu e Desdêmona; provo “do lirismo dos loucos” e “dos clowns”; compadeço-me de Arandir e seu “beijo no asfalto”...

Ler é exatamente isso para mim: libertador ! Acorda meus sonhos, provoca minha coragem...
Coragem de também escrever... escrever sobrEscritos meus, de outros... milhares...